Caderno 2

Por, Bairros de Maceió - 01/04/2018

A Ibys o que é de Ibys

Por: Mácleim Carneiro

Este não é um disco feito para constar em prateleiras da livre concorrência de mercado. Não foi feito para isso! Este trabalho funciona mais como um assentamento do que foi realizado em determinado momento e circunstância específica

No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!!

A IBYS O QUE É DE IBYS

Quando surge uma boa ideia e esta é posta em prática, o que resulta é sempre algo positivo. Especialmente, quando tal ideia for relativa ao universo musical e suas possibilidades de encantamento. Com uma ideia na cabeça e muita disposição nas mãos, a produtora Weldja Miranda foi à luta e no Dia Internacional da Mulher, homenageou as mulheres, na figura da grande personalidade do rádio alagoano, Floracy Cavalcante. Para tanto, Weldja pensou e produziu um show que também foi uma homenagem e reconhecimento a um dos mais importantes compositores da cena caeté. Um artista íntegro e resiliente em sua proposta musical, merecedor, sem senões, do foco e releitura que a sua música obteve nas vozes das mais expressivas e significativas cantoras da nossa cena, que deram tônus e uma nova perspectiva à obra do incansável Ibys Maceioh.

E assim, aconteceu o show Aqui Alagoas, que, por sua vez, deu origem ao disco homônimo, o qual será o nosso tema de agora. Antes, porém, vale pontuar sobre o mestre Ibys e sua trajetória de mais de quarenta anos “correndo trecho”, como o próprio costuma se referir a propósito de sua carreira artística. Particularmente, Ibys Maceioh sempre foi sinônimo de exímio violonista, com harmonias de difícil execução, repletas de ninhos de aranhas e pestanas complicadas, coisa de quem, à época em que o conheci, era professor do CLAM (Centro Livre de Aprendizagem Musical), a famosa escola de música do Zimbo Trio, em São Paulo. Anos mais tarde, eu, também, correndo trecho, não era raro nos encontrarmos nos ônibus da Viação Cometa, indo do Rio para São Paulo ou vice-versa.

Ibys é um artista sensível, que corriqueiramente usa a palavra “feliz” em quase tudo que escreve e fala. Um ser que tem sempre um sorriso pronto para o desarme de qualquer cara feia, apesar das adversidades e inúmeras barreiras no mister de sua sina e expressão de vida. Adocicado pelos canaviais do Litoral Norte, mais precisamente da terra de Calabar, sua Porto Calvo de origem, Valmiro Pedro da Costa tornou-se Ibys Maceioh por opção, por entender em nosso aquário algo icônico, que lhe conferiria representatividade, mesmo que a recíproca nunca tenha sido verdadeira e nem na mesma proporção da sua escolha. O fato é que só agora, após todos esses anos de fidelidade a tal identidade escolhida, e por iniciativa particular e nunca institucional, lhe foi feita esta justíssima homenagem. Ainda bem, que aconteceu em vida e antes tarde do que nunca! E foi mesmo uma bela e merecida homenagem, abraçada de canto e alma por dez intérpretes maravilhosas e oito músicos extraordinários.

Wilma Miranda, Leureny Barbosa, Elaine Kundera, Ana Galganni, Mel Nascimento, Ismair Martins, Fernanda Guimarães, Lara Melo, Nara Cordeiro e Irina Costa, acompanhadas pelos músicos Allysson Paz (bateria), Félix Baigon (contrabaixo), Willbert Fialho (violão), China Cunha (percussão), Everaldo Borges (sax e flauta), Jiuliano Gomes (piano e teclados), com as participações especiais de Thiago da Sanfona e Siqueira Lima (trompete), oxigenaram e deram nova expressão e cor à obra de um exímio compositor, cuja especialidade transita entre sambas, boleros, blues e xotes, tudo harmonicamente urdido por belos arranjos funcionais e uma direção musical precisa do mestre Félix Baigon, que já se tornou sinônimo de qualidade e eficiência nos palcos aquarianos.

O álbum Aqui Alagoas é o resultado de uma parte do que foi o show homônimo. Um registro de maneira resumida, pois são apenas dez faixas – uma para cada intérprete – escolhidas do repertório de vinte músicas, que compuseram o setlist do show. Este não é um disco feito para constar em prateleiras da livre concorrência de mercado. Não foi feito para isso! Este trabalho funciona mais como um assentamento do que foi realizado em determinado momento e circunstância específica. Não caberia aqui uma avaliação criteriosa e muito menos técnica. Do contrário, correríamos o risco de ter um contraponto tal, que poderia até embaçar a riqueza musical e as peculiaridades do que de fato interessa neste trabalho.

Portanto, fico com o que é relevante e salta aos ouvidos pela diversidade do que encontramos no recorte da obra do Ibys Maceioh e das interpretações performáticas e singulares, que as divas do canto generosamente assinaram para sempre neste trabalho. Sendo assim, desde a abertura do álbum, com a Wilma Miranda cantando Eu Sou o Show, em um arranjo com assinatura jazzística do Félix Baigon, até a última faixa Aqui Alagoas, em um arranjo não muito feliz, cantada pela Mel Nascimento, temos um desfile de alta-costura musical, com belíssimas manequins da ribalta, em performances inspiradas e algumas surpresas interessantes, como, por exemplo, Irina Costa cantando o xote Terminada a Tempestade, com tempero à Gomes de Sá no bacalhau do zabumba. Tudo a ver com a Semana Santa, não?

* Publicado na última quinta-feira, 29, pelo Caderno B, do jornal Gazeta de Alagoas

SERVIÇO
Aqui Alagoas, Ibys Maceioh
Disco físico: à venda no Café da Linda (Teatro Deodoro)
Preço: R$ 20

Ouça o CD AQUI http://bairrosdemaceio.net/web-radio-maceio/1036

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Curiosidade

Treze vezes vencedor do prêmio Notáveis da Cultura Alagoana - Prêmio ESPIA.

"Uma cidade que não tem memória é uma cidade sem alma. E a alma das cidades é sua própria razão de ser. É sua poesia, é seu encanto, é seu acervo. Quem nasce, quem mora, quem adota uma cidade para viver, precisa de história, das referências, dos recantos da cidade, para manter sua própria identidade, para afirmar sua individualidade, para fixar sua municipalidade." Extraído do livro Maceió 180 anos de história 5 de dezembro de 1995.

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