Maceió em Verso & Prosa

Maceió

Do alto do velho farol - que tombou numa noite de chuva - são vistos, ofuscantes, os pontos históricos da cidade. Alguns irradiam os tempos pretéritos imortalizados nas casas e nos sobrados coloniais, por vezes esquecidos em ruas antigas. E outros, dos tempos de hoje, imortalizados pela modernidade do asfalto e espigões de cimento apontados para o céu, vigiados pelas seculares torres das igrejas.

Pela frente tem os mares : O mar epopeico de Camões, o mar lusíada ; O mar político de Cabral, o mar colonizado ; O mar do general Labatut, que nestas águas prestou serviço à Coroa portuguesa combatendo o general Madeira, que caudilhava a Bahia desobedecendo as ordens do Imperador e, em nossas águas ameaçaria as naves de guerra que seriam construídas na Praia do Francês,
 o mar de guerra ; O mar doloroso de Castro Alves, o mar dos escravos , em cujas praias alvas areias rangem sob o passo dos viventes que por ali transitam com seus sonhos e suas queixas, em busca dos coqueirais incessantemente batidos pelos ventos.

E há, para quem desejar ver e ouvir, fantasmas que ainda nos rondam. Uns que se mostram ao nosso olhar sedento de passado. E outros que nos falam pelas vozes dos ventos antigos. São tantos: Zumbi, que pode ter sonhado um Estado negro ; Os Fonsêca e Peixoto, heróis da República ; Aurélio Buarque de Holanda, ainda criando e decifrando palavras ; Jorge de Lima, assustado com o sumiço dos lampiões antigos ; Artur Ramos, em busca dos últimos enigmas antropológicos ; Jaime de Altavilla, à cata de algum poema que não lhe deu tempo para ser escrito ; Pontes de Miranda, ainda debruçado sobre o constitucional e o inconstitucional da condição humana na sociedade; Graciliano Ramos, tonto de espanto por ver a fartura das águas e a secura do seu sertão ; e finalmente Tavares Bastos, assustado com a política dos dias de hoje.

Lá em baixo está a planície litorânea, dominada pelas praias, terraços marinhos, cordões litorâneos, recifes da costa, terrenos semi-pantanosos dos mangues e terras de inundação dos rios que chegam ao mar diretamente, ou então através de pequenos deltas interiores, da obra do professor e geógrafo Ivan Fernandes. A planície é ligada ao planalto sedimentar dos tabuleiros pelas encostas que, do lado marinho são conhecidas como falésias, e do lado das lagoas e dos rios são conhecidas como ribanceiras. Os tabuleiros ligam a cidade aos antigos vales úmidos da Mata Atlântica que, no passado, forneceram madeira para o Reino de Portugal fabricar suas embarcações colonizadoras e hoje estão cobertos por um tapete de cana de açúcar.

Ao Sul ficam as lagoas, que ao longo dos anos matam a fome dos pobres com o peixe e sururu. Ao Norte estão os grandes ancoradouros dos tempos coloniais.

Lá adiante, num verde-azul perolado pela luz do sol, está o mar de Pajuçara, imortalizado por Aldemar Paiva, o mar imortalizado - com suas águas mornas a banharem, num ritual eterno, os seios e os cabelos das mulheres que se bronzeiam para os atos do amor.

Bairros de Maceíó © 2002-2020

Curiosidade

Treze vezes vencedor do prêmio Notáveis da Cultura Alagoana - Prêmio ESPIA.

"Uma cidade que não tem memória é uma cidade sem alma. E a alma das cidades é sua própria razão de ser. É sua poesia, é seu encanto, é seu acervo. Quem nasce, quem mora, quem adota uma cidade para viver, precisa de história, das referências, dos recantos da cidade, para manter sua própria identidade, para afirmar sua individualidade, para fixar sua municipalidade." Extraído do livro Maceió 180 anos de história 5 de dezembro de 1995.

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