Maceió em Verso & Prosa

Oh, Maceió...

Hoje te vejo tão diferente
Dos anos que me viste adolescente,
Quando também eras para mim
Uma menina-moça, embora idosa.
Eras ingênua, sem as pretensões
Exageradas das tuas irmãs do Sul,
Que cresciam, que se tornavam adultas
Mais depressa. Tu eras pequenina,
Mas alegre, festiva.
Não foi à toa que te cognominaram
De “cidade-sorriso”!
Hoje, no entanto, te vejo mais sisuda.
Ou, quem sabe?... tristonha,
Revoltada com as mudanças que te impuseram.
As tuas ruas já não são as mesmas
Do nosso tempo de amigos adolescentes
Das ruas da Alegria, do Macena, do Apolo,
Da Ladeira do Brito, do Beco São José, Beco da Moeda (ou do Moeda?)
Da Rua do Sol, que alguém, com saudade de ti,
Cantou: “... Rua do Sol, rua do Sol, rua do Sol,
Maceió, inda ontem eu vim de lá...”
Elas não são mais aquelas dos nossos dias...
Onde estão os teus bondinhos
Que nos levavam da Rua do Comércio
Para o Farol, Ponta da Terra, Ponta Grossa, Trapiche da Barra,
Mangabeiras e Bebedouro?
Sumiram com os nossos bondinhos.
Que lástima! Que pena!
Oh, Maceió, quanta saudade
Do tempo do preto Gonguila
Que tanto animou as tuas noites
Com seus pastoris de belas pastorinhas
Dos cordões azul e encarnado.
Não és mais “sorriso”!
Tu te lembras de Dominguinho,
Aquele “doidinho” que dava conta
Dos falecimentos importantes do dia?
Hoje estás bem mais velha. E eu também.
Teus filhos e os teus adotados,
De agora, estão “por fora”.
Devem achar tudo isso, este nosso saudosismo
muito “careta” e passam pelas ruas
abarrotadas de ambulantes, de camelôs,
indiferentes, alheios àquela vida que tivemos
na mocidade do tempo do Liceu Alagoano
do Instituto de Educação.
Poucos se lembram.
E dos teus ilustres filhos Guedes de Miranda,
Carlos de Gusmão, Mário Marroquim,
Osman Loureiro, Mário Broad, Camerino,
Rosalvo Lobo, Zezé Loureiro, padre Hélio,
Padre Pinho, pastor Tavares, cônego Lira,
José Lages (clínico) e Afrânio Lages (advogado).
E do Théo Brandão, o pesquisar incansável
Do folclore de Alagoas, alguém, hoje, se recorda?
Acho que não. Talvez uns poucos se lembrem.
O teu passado parece morto e sepultado
Pela nova “geração Mac Donald´s”, infelizmente.
Mas saibas que a tua tristeza também é minha.
Hoje, bem vês, enfeitam a tua Pajuçara,
Ponta Verde, Jatiúca e Cruz das Almas
Para conquistar turistas, até estrangeiros,
Que nada sabem da tua vida,
Do teu centro velho,
Onde o teu coração pulsava
Cheio de histórias e tradições.
Relegaram o que tinhas de precioso.
Estas doces recordações se juntam
Às lágrimas que, intimamente, derramo
Porque já não és mais a mesma
Cidade da nossa adolescência.
Contudo, creia-me, um dia,
Farei para ti uns versos lindos em que
Cantarei a beleza das tuas praias, desse teu
Mar azul que em lugar nenhum do mundo existe.
Eu te prometo!

Bairros de Maceíó © 2002-2020

Curiosidade

Treze vezes vencedor do prêmio Notáveis da Cultura Alagoana - Prêmio ESPIA.

"Uma cidade que não tem memória é uma cidade sem alma. E a alma das cidades é sua própria razão de ser. É sua poesia, é seu encanto, é seu acervo. Quem nasce, quem mora, quem adota uma cidade para viver, precisa de história, das referências, dos recantos da cidade, para manter sua própria identidade, para afirmar sua individualidade, para fixar sua municipalidade." Extraído do livro Maceió 180 anos de história 5 de dezembro de 1995.

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