Era, o “Gogó-da-Ema”, o coqueiro fenomenal que, acidentalmente, cresceu – a Natureza, para ser retilínea, às vezes entorta – daquela forma : na parte inferior da curva pronunciada do “Gogó”, havia cicatrizes de traumatismos causados por pequenos insetos que, com certeza, afirmaram agrônomos da época, deram-lhe aquela forma. Era uma espécie de monumento da Natureza, o qual, naquela solidão, vivia confortado pela lembrança de todos os que o visitavam para ver se, de fato, aquele vegetal tinha mesmo, no tronco, a curva parecida com a do pescoço dos pernaltas.
Ele ficava na ponta do semi-cabo que conhecemos como Ponta-Verde, como se fosse um farol, mostrando as adjacências dos pontos-de-partida dos destemidos jangadeiros. E, naquele recanto, ele era como se fosse uma pessoa contando-nos uma história que só terminava quando se saía de lá. O coqueiro amigo era como recanto para todas as idades, porque era o recanto para todas as mocidades.
Quando foi plantado e quem o plantou, isso ninguém descobriu. Quem o batizou, ninguém o sabe; mas, segundo Roberto Stukert, um repórter-fotográfico que foi quem mais o retratou, quem oficializou o nome foi o então Deputado e escritor Mendonça Júnior, que havia, também, sido Diretor do Departamento Estadual de Cultura.
Segundo se afirmava, o coqueiro-símbolo de Maceió existia desde os meados dos anos 10, no sítio outrora pertencente a Francisco Venâncio Barbosa, mais conhecido como Chico Zu. No início era pouquíssimo conhecido, e quem o fosse ver arriscava-se a ser mordido por cães que guardavam o local.
Além do descaso das autoridades, outro motivo que provocou sua morte, segundo consta, se deu a partir de 1.930, quando, próximo ao local, uma empresa norte-americana perfurou vários poços em busca de petróleo; os alicerces de uma das torres ainda estão lá até hoje. Com isso, o mar começou a avançar, derrubando vários coqueiros, fazendo com que se pudesse divisar o “Gogó” ao longe, quer da praia de Pajuçara, quer do mar.
Mas o mar continuava a avançar, pondo em risco a famosa palmeira. Veio então a construção do Porto de Jaraguá, que ocasionou mais acentuadamente a invasão marítima, quando a Prefeitura construiu o bisonho cais-de-proteção, que não resistiu à fúria do mar.
José Dias de Oliveira, empregado na propriedade onde ficava o “Gogó”, que já pertencia ao sr. Álvaro Otacílio, foi quem viu o coqueiro cair:
“… Ele não caiu de uma vez. Foi aos pouquinhos. Foi caindo e, já em baixo, despencou com mais violência, com um barulho seco.”
A queda do referido vegetal chegou a merecer uma ampla reportagem em ” O Cruzeiro “, a melhor revista brasileira da época, ilustrada com fotografias dele, imponente, majestoso e, depois, sucumbido.
Tentaram ressuscitar o coqueiro, com a participação de centenas de pessoas, autoridades e agrônomos, além do Corpo de Bombeiros, o qual, com a ajuda de um guindaste, ergueu a árvore. Essa iniciativa foi encabeçada pelo jornalista Carivaldo Brandão. Mas, em 1.956, foi, o “Gogó-da-Ema” , dado como morto definitivamente.
Sobre ele, é importante transcrever, aqui, palavras do ilustre folclorista Théo Brandão :
” É verdade que o “Gogó-da-Ema” é um aleijão. Mas há harmonia em suas linhas. Quanto ao mais, o povo já o elegeu como símbolo da cidade. Significa uma preciosidade da terra. Como folclorista, temos obrigação a zelar pelos que, mesmo sem serem feitos pelo povo, são entronizados como símbolos pelas camadas populares. Aliás, no material da Comissão de Folclore de Alagoas, o “Gogó-da-Ema” aparece como símbolo”.
O saudoso coqueiro, como já foi dito, sempre foi muito querido pelos namorados, a quem acolhia nas manhãs e tardes ensolaradas, ou nas noites de luar. Talvez, por isso, tantas visitas teve depois de moribundo. A solidariedade foi tamanha, que parecia que todos eram parentes do coqueiro.
“Gogó da Ema era um coqueiro torto, existente no sítio do Chico Zu, na Ponta Verde. No início era completamente desconhecido. Quem Falava dele então ? Pouquíssimas pessoas. Sabe-se apenas que algumas pessoas desejosas de vê-lo, pulavam a cerca do sítio do Chico Zu (Francisco Venâncio Barbosa) arriscando-se às mordidas do cachorro que guardava a propriedade ou às chifradas de algum boi bravo que lá pastasse na ocasião.
O mar avançou muito, derrubou outros coqueiros, fazendo com que se pudesse divisar o Gogó, da praia ou do mar, quando se passava ou tomava banho. E ei-lo que se torna, pouco a pouco, falado, cantado, adquirindo até celebridade internacional. Turistas ou passageiros, ao desembarcar, indagava logo onde fica o Gogó da Ema.
Em 1930, bem perto do local, perfuraram vários poços em busca de petróleo. O mar avançou mais, pondo em perigo a famosa palmeira. Para ela foi reclamada proteção, havendo a Gazeta de Alagoas, em reportagem intitulada “Os assassinos do Gogo da Ema”, denunciando o perigo. A Prefeitura mandou protegê-lo com um muro de alvenaria de tijolos e uma traves de madeira, o que não bastou para garanti-lo.
Apesar das advertências do público e dos jornais, no dia 27 de julho de 1955, às 14:20 horas, ele caiu aos poucos, devagarzinho. Imediatamente, pessoas que estavam nas proximidades cortavam as palhas e colheram os frutos.
O acontecimento foi comentado em toda Maceió. Segundo consta, a causa de o coqueiro ter ficado aleijado fora haver o seu tronco sido perfurado por um besouro, pequeno.
Tentando salvá-lo, reergueram o coqueiro em 29 daquele mês. Enquanto um guindaste o levantava, populares que presenciava a tentativa de ressurreição batiam palmas e davam vivas entusiásticos. No dia seguinte os jornais circularam com numerosas fotografias. Deve-se ao jornalista Carivaldo Brandão a iniciativa de reerguer o coqueiro. Os agrônomos Jesus Geraldo e Olavo Machado examinaram a possibilidade de salvá-lo.
A Gazeta de Alagoas registra melancolicamente: ”Vão morrendo, desaparecendo, uma a uma, as coisas tradicionais desta terra: o Grande Ponto(?), o Relógio Oficial (no coração do Comercio)… Agora, o Gogó famoso, do qual já se falava em todo o Brasil”.
Na praia de Ponta Verde, próximo a área onde esteve o Gogó da Ema, foi construída uma praça com seu nome.
Fonte: Livro Maceió de Outrora – Félix Lima Júnior
Pesquisa e texto: José Bilú da Silva Filho
Quando falamos sobre o Gogó da Ema, nos chega uma lembrança que envolve toda uma constelação de ações e reações emotivas. Para os mais novos e para os que viveram suas décadas que hoje vista como Cartão Postal, o Gogó da Ema era isso e mais aquilo que faltou concretizar-se durante sua existência de: "Cartão Postal de Alagoas" (Maceió) ou seja: O Recanto Turístico enviado para todos os locais do Brasil para que fosse visitado quando das vindas turísticas as Alagoas. Assim como no Rio: Copacabana e o Corcovado; Bahia: Igreja do Bomfim e Itapoan e como iguais pontos em outros Estados, já foi e é só na lembrança de quem viveu. Ora se vai, ora renasce. Vejamos como ele é na Poesia de Creusa Chaves.
O Gogó da Ema caiu em 27 de julho de 1955, às 14:20 horas. Em sua homenagem foi construída um Praça, próxima a área onde viveu o coqueiro. A praça possui vários bancos ao seu redor a composição do jardim engloba vários coqueiros, amendoeiras e castanholas. A iluminação apesar de esta em uma área que absorve muita luz, ainda para praça é fraca. Ao redor estão os Edifícios Barroca e o Alagoinhas, Churrascaria Laçador e uma Floricultura junta a inúmeras construções comprovando o progresso da área (bairro). Rua principal - Av Robert Kennedy. (hoje Av. Silvio Viana)
GOGO DA EMA
Nascente para fama e para Glória
bem pertinho do mar dos meus sonhares
do verde mar que trago na memória,
de um verde mar de celebres antares
O mundo já conhece a tua história
- Gogó da ema - verde como os mares
- que da natura és obra meritória
Ponta Verde, coqueiros e luares...
A praia que te envolve - a areia fina
Numa carícia terna e envolvente,
sugere uma moldura alabastrina
Gogó da Ema - lembra-se um versêto
pela brisa cantando docemente.
"Gogó da Ema" - Cabe num soneto...
Recife - 1951 Transcrição da Revista lustrada - MISA 1967
Publicado no Jornal "O DIÁRIO" Quinta-feira em 02/12/1996
"Uma cidade que não tem memória é uma cidade sem alma. E a alma das cidades é sua própria razão de ser. É sua poesia, é seu encanto, é seu acervo. Quem nasce, quem mora, quem adota uma cidade para viver, precisa de história, das referências, dos recantos da cidade, para manter sua própria identidade, para afirmar sua individualidade, para fixar sua municipalidade." Extraído do livro Maceió 180 anos de história 5 de dezembro de 1995.