Click aqui e ouça a musica: "quem for podre que se quebre"
Por: Arlene Miranda aa-assis@ig.com.br
Jornalista e escritora (membro da Academia Maceioense de Letras)
Há quem diga que é saudosismo. Mas como não sentir saudade de um passado feliz, repleto de coisas tão boas?
Escrevo isso relembrando os antigos carnavais de Maceió, quando se brincava de forma saudável, sem excessos, sem maledicências. Isso nas décadas de cinqüenta, sessenta e até anteriores, quando a Rua do Comércio e adjacências ficavam apinhadas de foliões que pulavam e cantavam sob chuvas de confetes e serpentinas, cheirando lanças-perfume, sem o cerceamento policial por não serem consideradas entorpecentes, enquanto os carros faziam o corso, enfeitados com lindas alegorias e moças de nossa sociedade, vestidas em belíssimas fantasias, colorindo as ruas do centro de Maceió.
E à noite, ah, à noite!... Lá estavam os salões dos nossos clubes – Fênix, Tênis, Portuguesa – todos com decoração belíssima, lotados de rapazes e moças bonitas, exibindo fantasias de lamê, bordadas de paetês de diversos tons, pulando no meio do salão sob a severa vigilância dos pais e os mornos olhares dos “paqueras”. Cada dia, uma fantasia diferente, verdadeiro desfile de cores e lantejoulas. Só as músicas não mudavam: “Mamãe, eu que quero/ Mamãe, eu quero/ Mamães, eu quero mamar...” “Se a canoa não virar, olé, olé, olá,/ Eu chego lá.”; “Um Pierrô apaixonado,/ Que vivia só cantando,/ Por causa de uma Colombina/ Acabou chorando, /Acabou chorando.” E outras mais. E as crianças, fantasiadas, sem a censura do Juizado, frevando na maior animação.
O carnaval era, de fato, a festa do povo, onde tudo se podia. Brincava quem tinha dinheiro e brincava quem não tinha, todos irmanados num único sentimento: se divertir.
Sem querer escantear as inovações, é muito bom vermos resgatadas as nossas origens. É preciso que a juventude de hoje conheça as suas raízes e a beleza das nossas tradições. Quando os jovens fizerem essa descoberta, certamente passarão a amar também as coisas do passado, a música sadia, sem duplo sentido, a diversão sem violência e agressividade.
Maceió está precisando desse resgate. E, para isso, estamos às vésperas de assistir a um evento carnavalesco que promete trazer de volta o carnaval de clube. Trata-se de um baile que leva esse sugestivo nome: “Quem for podre que se quebre”, uma louvável iniciativa do casal Oriêta/Benedito Pontes, um grande passo para resgatar o carnaval de clube de Maceió, cujo único propósito é estimular a volta dos animados carnavais de outrora, unindo forças com o “Pinto da Madrugada” e os “Seresteiros da Pitanguinha”, que já vêm promovendo esse louvável resgate há alguns anos.
O professor Benedito Pontes é um excelente compositor e nesse baile lançará o seu segundo CD, desta vez com músicas carnavalescas. São 15 faixas compostas de marchas, marchas-rancho, frevos, sambas, todas inéditas e da melhor qualidade. Do primeiro CD, intitulado “Mãe Terra”, constaram 15 músicas, também inéditas, “cujas vozes nele contidas tentaram fazer coro com aquelas que defendem a VIDA, a ECOLOGIA e acreditam em novos paradigmas para as relações entre os homens, a natureza e as Nações”, conforme escreveu o autor na contracapa do disco.
Espero que os alagoanos aplaudam esta iniciativa do casal Pontes e prestigiem esse baile, que acontecerá no dia 6 de dezembro, no Clube Fênix Alagoana – tal como antigamente. Haverá ainda a apresentação do Balé Eliana Cavalcanti.
Vamos matar saudade e reviver os saudosos carnavais de clube. Vamos pular a valer. E “quem for podre que se quebre”.
"Uma cidade que não tem memória é uma cidade sem alma. E a alma das cidades é sua própria razão de ser. É sua poesia, é seu encanto, é seu acervo. Quem nasce, quem mora, quem adota uma cidade para viver, precisa de história, das referências, dos recantos da cidade, para manter sua própria identidade, para afirmar sua individualidade, para fixar sua municipalidade." Extraído do livro Maceió 180 anos de história 5 de dezembro de 1995.