Caderno 2

Por, Bairros de Maceió - 06/12/2010

Comendador Tércio Wanderley, um Pernambucano Alagoano

Por:   J. R. Guedes de Oliveira*

: Dona Corália e o Comendador Tércio Wanderley, na  Comemoração  dos 89  anos do aqui homenageado (1989).          Comemoramos, condignamente, neste 8 de dezembro, o 110º. aniversário de nascimento do Comendador Tércio Wanderley, uma das expressões empresariais  mais sólidas do norte-nordeste brasileiro – principalmente na área açucareira.

          Nascido na pequena e cativa cidade de Bom Conselho, no Estado de Pernambuco, muito jovem ainda chegou às terras alagoanas para iniciar uma trajetória fantástica de iniciativas industriais, paralelamente ao respeito ao trabalho, meio ambiente e progresso do Estado. Todas estas somatórias é que o fizeram especial em toda a sua existência.

          Pautado pelo respeito ao próximo – base primordial de sua longa jornada – o Comendador Tércio Wanderley teve, ainda em vida, o privilégio de receber as mais altas condecorações, os mais efusivos encômios e as mais largas distinções, mercê da sua integridade moral, visão futurista e capacidade progressista em seus negócios.

          Situá-lo apenas na questão de empresário bem sucedido seria ofuscar o seu lado cultural e de benemerência, aliados, pois, ao seu pensamento de homem de ação, em diversos segmentos da vida de Alagoas, por cujas terras o Comendador Tércio Wanderley tinha verdadeira paixão. E com a sua expressão de conhecimento, resumia a sua vida em torno do trabalho, da dedicação aos seus, do interesse efetivo para com a melhoria de vida dos seus funcionários e do seu desprendimento pessoal em favor das boas causas alagoanas.

          Mas é de bom alvitre lembrar o que o filósofo e pensador libanês Khalil Gibran dizia: “A humildade é o último degrau da sabedoria”. E foi assim a vida desse grande lutador que homenageamos neste dia, reverenciando a sua memória como tributo a muito o que ele nos legou de ensinamento, de amor ao próximo e de esforço pessoal em prol de seus irmãos.

          É imperioso que se faça estas referências elogiosas ao saudoso Comendador Tércio Wanderley pelo que ele representa de brasilidade. O seu exemplo é que deve ser visto e conferido pelas novas gerações, até porque necessitamos de heróis, como espelho para tantos que precisam compreender e saber ter os pés no chão. Nada se constrói sem esta força, sem este carisma, sem esta garra e perseverança. As somatórias de tantos adjetivos que o Comendador Tércio Wanderley teve e tem, é o que proporciona a todos o significado da nossa existência. Nada se ergue sem um grande esforço, um enorme coração, uma ousadia verdadeira e um espírito cristão como o que ele sempre se situou na sua trajetória de desbravador-empresário.

          Mas para sintetizar realmente o que foi a vida do Comendador Tércio Wanderley, recorremos ao pronunciamento feito pelo então senador Guilherme Palmeira, feito no Senado Federal no dia 27 de janeiro de 1994, dias depois do falecimento do renomado empresário:
       
         “No último dia 3 de janeiro, o Estado de Alagoas perdeu seu maior líder empresarial. Faleceu em Maceió, aos 93 anos, o Comendador Tércio Wanderley, um homem que poderia ostentar, com toda justiça, o título de homem de visão. É para reverenciar sua memória, para prestar¬-lhe uma homenagem, que ocupo, hoje, a tribuna desta Casa. Tércio Wanderley era pernambucano de Bom Conselho, onde nasceu em 1900, e só aos 11 anos veio morar, com toda a sua família, no Município de Palmeira dos Índios, em Alagoas. Cedo preferiu dar asas a seu aguçado tino de comerciante que o transformaria, mais tarde, em um dos maiores empresários deste século em todo o Estado. Com o apoio do pai, montou sua primeira firma comercial, aos 18 anos, a Wanderley & Melo, com um capital de cinco contos de réis. Dedicou-¬se inteiramente à luta pela sobrevivência e pela consolidação do empreendimento, sem se importar com o desconforto dos meios de transporte mais facilmente disponíveis na época: trem e lombo de burro. Seu ramo de negócios era estivas em geral. "Vendia de tudo. Do charque ao palito... Tudo em grosso. Viagens cansativas pelo interior de Alagoas, e até de Pernambuco, marcaram a minha luta de comerciante.", dizia ele, ao rememorar o início de sua longa trajetória de empresário. Crescendo nos negócios e tendo por objetivo dedicar-¬se à atividade industrial, Tércio Wanderley montou em Maceió uma fábrica de sabão e uma de velas. Em 1936, passou a dedicar¬-se ao ramo de tecidos, adquirindo o controle acionário da Fábrica Têxtil, em Sergipe, que continuou a existir até 1952. O encerramento das atividades naquele Estado não significou, entretanto, que o empresário estava abandonando o setor têxtil. Continuou nesse ramo de negócios até 1956, controlando a Companhia Pilarense de Fiação e Tecidos, sediada na cidade do Pilar, em Alagoas. Lutas não o desanimavam. Confessava não gostar das calmarias e nunca ter tido medo das tormentas. Com as atividades cada vez mais diversificadas, Tércio Wanderley deu a grande arrancada para tornar-¬se o dono do maior complexo empresarial do Estado em 1941, quando assumiu o controle acionário da S.A. Usina Coruripe, que produzia, naquela época, 33.454 sacos de açúcar de 60 quilos. Hoje, a unidade é o maior complexo industrial do gênero no Nordeste. Essa Usina, juntamente com a destilaria Camaçari, surgida tempos depois, têm, hoje, uma capacidade instalada para produzir mais de 5 milhões de sacos de açúcar de 50 quilos. Na esteira do crescimento da Usina Coruripe, várias empresas foram nascendo, numa demonstração inconteste de que o caminho trilhado era seguro. A diversificação das atividades empresariais do Grupo Tércio Wanderley veio como conseqüência natural do sucesso dos empreendimentos. A ampliação das atividades da Coruripe motivou, em 1961, a criação da CIPESA - Comércio e Indústria de Postes e Engenharia S/A, empresa de construção civil especializada na fabricação de postes para a eletrificação e de pré-moldados de concreto, na construção de imóveis e em outras atividades do ramo da construção civil. O povoado de Camaçari ganhava dimensões sempre proporcionais ao crescimento da Usina Coruripe. Em 1969, o espírito empreendedor de "Seu Tércio", como era chamado, visualizou mais crescimento e criou a Agropecuária Tércio Wanderley Ltda, iniciada com um rebanho de apenas 350 reses e possuindo hoje mais de 6 mil cabeças de gado. Em 1978, o Grupo deu início à construção de uma destilaria anexa à usina, a Destilaria de Camaçari, cuja produção atual é de cerca de 50.000.000 de litros de álcool por dia. O transporte dos produtos sucro¬alcooleiros, das peças de reposição das indústrias, dos equipamentos agrícolas e dos materiais de construção motivou a criação, em 1971, de uma transportadora que daria origem, no início da década de 80, à empresa Sapucaia, Comércio e Transportes Ltda. Esse não foi, porém, o último empreendimento do grupo. Mais tarde vieram a Capiatã Aqüicultura, Comércio e Exportação, em 86, que produz os camarões gigantes da Malásia, e a Usifértil, em 88, uma fábrica de fertilizantes que, hoje, se expande entre os mercados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Bahia. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Senadores, homem de muitos amigos, dentre os quais incluía-se o escritor Graciliano Ramos, Tércio Wanderley foi, durante a vida inteira, um homem simples, distinto, amigo e atencioso, sempre pronto a atender aos reclames de quantos o procurassem. Com seu inseparável boné, andava pelas ruas de Maceió e freqüentava os grandes eventos da comunidade como um homem comum, um desses que se perdem na multidão e não expõem o seu valor e a sua grandeza de industrial bem sucedido, inteligente e progressista. Uma única vez deixou-¬se dominar pelo espírito político, que herdara do pai, e disputou uma vaga de Deputado Constituinte, em 1946. Eleito, desenvolveu um trabalho positivo em favor da comunidade alagoana na Casa de Tavares Bastos. Findo o mandato, afastou¬-se da política para dedicar-¬se exclusivamente às suas atividades empresariais e à direção da Cooperativa dos Usineiros de Alagoas, da qual foi presidente de 1946 a 1960.
Empresário de sucesso inconteste, o Comendador Tércio Wanderley foi também um homem público atuante e voltado para as causas sociais. Políticos, amigos, empregados de suas empresas, todos, sem distinção, eram unânimes em enfatizar o papel social de destaque que Tércio Wanderley desempenhou na estrutura da sociedade alagoana. Marido e pai exemplar, homem bem sucedido e de alma generosa, preocupado com a construção do bem¬-estar social, o Comendador cumpriu como poucos suas responsabilidades sociais e já garantia a seus empregados muitos direitos que só a partir de 1988 passaram a figurar na Constituição Federal. Sua capacidade de dar assistência aos que para ele trabalhavam era inequívoca. A saúde e a educação de seus empregados nunca foram negligenciadas. Os trabalhadores rurais e demais empregados das empresas do Grupo que compareceram aos funerais do Comendador deixaram transparecer em suas emoções um sentimento de perda incomum num relacionamento patrão-empregado. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Senadores, procurei traçar aqui, em rápidas pinceladas, o perfil desse homem admirável que foi o Comendador Tércio Wanderley. Ao encerrar meu pronunciamento, rendo, uma vez mais, as minhas maiores homenagens a esse alagoano de coração, o muito estimado "Seu Tércio" e reitero a toda a família enlutada meu pesar pelo seu falecimento. Concluo, citando sábias palavras por ele proferidas, que definem melhor do que quaisquer outras sua trajetória vitoriosa de nordestino empreendedor e corajoso, merecedor da admiração de todos os que tiveram o privilégio de conhecê¬lo: "Caminhei caminhos agrestes, cursei as vicissitudes da vida, e, por Deus, nada, até agora, foi capaz de arrefecer o meu ânimo, destruir a minha coragem, e abater a minha fé.". Foi com essa fé e essa coragem que Tércio Wanderley trabalhou e lutou, até os 93 anos, pelo engrandecimento e pelo progresso do Estado de Alagoas. Era o que tinha a dizer, Senhor Presidente”.

          A uma vista na biografia do Comendador Tércio Wanderley, vamos vê-lo, ainda na tenra idade, se dedicando ao comércio, como bem registra o seu biógrafo Aurino Vieira da Silva.  E não foram poucos os dias de intenso trabalho nas feiras de Bom Conselho. Laplidava-se o espírito de empreendedor num pequeno jovem corajoso e audacioso.

         O tempo correndo e os negócios prosperando até chegar em nossos dias, os quais o Grupo Tércio Wanderley se situa entre os mais progressistas, não se esquecendo, em toda essa trajetória, pelo espírito lúcido desse desbravador, de que a terra exige respeito. E nisto podemos perceber o quanto de significativo desenvolvem também pelo meio ambiente.

            Prestar-lhe o devido tributo, neste momento, é, em extensão, reverenciar a sua dileta companheira Dona Corália Montenegro e aos filhos do casal: Dr.  Rubem, Dr. Vitor e Wilma -  figuras que deram continuidade ao espírito empreendedor do Comendador Tércio Wanderley.

           Eis, pois, em rápidas pinceladas, a nossa homenagem ao patriarca do Grupo Coruripe e  CIPESA, esta grande figura que foi e representa a força e vitalidade da indústria brasileira: Comendador Tércio Wanderley, um pernambucano-alagoano.


                           *J. R. Guedes de Oliveira, ensaísta, biógrafo e historiador.
                             E-mail: guedes.idt@terra.com.br 

       

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Curiosidade

Treze vezes vencedor do prêmio Notáveis da Cultura Alagoana - Prêmio ESPIA.

"Uma cidade que não tem memória é uma cidade sem alma. E a alma das cidades é sua própria razão de ser. É sua poesia, é seu encanto, é seu acervo. Quem nasce, quem mora, quem adota uma cidade para viver, precisa de história, das referências, dos recantos da cidade, para manter sua própria identidade, para afirmar sua individualidade, para fixar sua municipalidade." Extraído do livro Maceió 180 anos de história 5 de dezembro de 1995.

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