Caderno 2

Por, Bairros de Maceió - 06/09/2013

EmCiscos se prepara para circular no Interior de Alagoas

Cortejo performático EmCiscos coloca as ilustrações de Pedro Lucena nas ruas e questiona a (des)ocupação dos espaços públicos e a cidadania.

 

De onde vem a arte? Gonzaga nos diz: “Debaixo do barro do chão”. Seguindo a canção, saberemos que ele está falando do baião, mas porque não dizer de todos os ritmos ou mesmo de todas as artes?
Saber de onde vem o impulso originário do fazer artístico ainda é um mistério para nós, e temos tantas hipóteses para explicá-lo quanto expressões e linguagens artísticas.

As corcundas do Mestre Aberardo da Ilha do Ferro, somadas à poética onírica de Manoel de Barros vão despertar esse impulso artístico em Pedro Lucena, artista visual alagoano, o que resultará numa série de ilustrações reunidas na série Ciscos. E esse impulso, que é tão desconhecido quanto incontrolável, vai reverberar em Flávio Rabelo e Eris Maximiano e gerar o EmCiscos, um cortejo performático que tenta trazer as figuras das telas de Pedro para a rua, e questionar a ocupação (ou esvaziamento) das ruas da cidade.

Estes dois pontos de partida, levaram para a Praça Sinimbu durante duas noites o cortejo performático EmCiscos, guiado por três personagens e seguido por dezenas de pessoas. E o que parte do desejo de discutir a nossa ausência das ruas, enche a praça como há muito não víamos. E entre os presentes, não será surpresa se a arte reverberar em mais alguma produção ou, muito melhor, que ecoe naquela que é a mais sublime de todas as artes, a arte de viver.

Para os que precisam de explicações, sentimos, pois EmCiscos não fica confortável em nenhuma classificação, é teatro, performance, instalação, música, intervenção urbana... é todas essas coisas e não é nenhuma delas isoladamente. Mas é um momento capaz de emocionar aqueles que se permitem serem tocados pelo turbilhão de impulsos.

Para materializar as ideias, EmCiscos traz em sua ficha técnica a direção e concepção de Flávio Rabelo e Eris Maximiano, no elenco, Fátima Farias e Igor de Araújo da Cia. Ganymedes e Jorge Schutze da Cia. LTDA, na assistência de direção, Magnun Ângelo da Cia. do Chapéu, no estudo com as sonoridades, Marcelo Marques da Ganymedes/Gato Zarolho, e a artista multimeios Renata Voss, que assina o material gráfico. A experiência não seria possível sem o patrocínio do Programa de Cultura do Banco do Nordeste, que também vai possibilitar a circulação do EmCiscos em Penedo, Piaçabuçu, Viçosa, Arapiraca, Delmiro Gouveia e Água Branca.


Circulação e formação
Após a estreia nos dias 30 e 31 de agosto, em Maceió, EmCiscos segue para Piaçabuçu no dia 05 de setembro e para Penedo no dia 06. Excepcionalmente, apenas em Penedo serão ofertadas oficinas de Treinamento do Ator e Direção da Arte, nos dias 05 e 06, das 9h às 12h. As oficinas resultarão num experimento com os alunos.


Ficha Técnica
Concepção e Encenação: Eris Maximiano e Flávio Rabelo
Elenco: Fátima Farias, Igor Araújo e Jorge Schutze
Assistência Direção: Magnun Ângelo
Cenografia e Figurinos: Eris Maximiano
Assistência de Execução de Cenografia e Figurinos: Arnaldo Ferju, Kleise Maria e Valéria
Monteiro.
Sonoridades: Marcelo Marques
Material Gráfico: Renata Voss
Ilustrações: Pedro Lucena
Projetor Móvel: Fábio Stasiak
Assistência de Produção: Fátima Farias
Produção: Ane Oliva
Realização: Instituto Eu Mundaú
Patrocínio: Programa de Cultura Banco do Nordeste / BNDES / Governo Federal

Contatos:
Eris Maximiano Diretor (21) 8120.6461 eris.maximiano@gmail.com
Flávio Rabelo Diretor (19) 8185.4508 flaurabelo@gmail.com
Ábia Marpin Comunicação (82) 9659.9242 / 8854.9382 abia.arte@hotmail.com
Infos: www.facebook.com/EmCiscos

Depoimento de Pedro Lucena após EmCiscos:
EmCiscos nasceu enquanto Ciscos tomava forma, e hoje penso nisso e vejo como as peças se encaixam perfeitamente. Construir minha exposição Ciscos, que esteve em cartaz na Pinacoteca Universitária entre outubro de 2012 e novembro desse ano, aos olhos de meus dois grandes amigos Eris Maximiano e Flávio Rabelo foi o que fez EmCiscos começar a germinar na cabeça deles dois.Eu queria falar de desapego, renúncia, busca interior, procurar me entender, eles viam uma potencialidade cênica nas minhas personagens. Mas que histórias contavam essas personagens? Ciscos, a exposição, foi concebida depois de eu ter me deparado com as misteriosas corcundas do mestre Mestre Aberaldo da comunidade da Ilha do Ferro, em Pão de Açúcar, Alagoas.

Ao ver aquelas figuras corcundas, para mim misteriosas, criadas pelo Mestre, eu me pus a imaginar quem seriam elas, de onde viriam e que histórias poderiam contar. Comecei a construir a narrativa da exposição através do desenho. Juntei essa áurea de fantasia à poesia de Manoel de Barros, e quem visitou a exposição pôde mergulhar no universo encantado de Ciscos. Mas a solidão estava lá, junto com a dor, a renúncia, o desapego, e as três perguntas essências: "Quem sou?", "De onde vim?", "Para onde vou?".

Enquanto isso Eris e Flávio teciam sua versão de Ciscos com a ajuda de outras pessoas que (re)significaram minhas fábulas(?). Participei do diálogo que se formou ao redor do tema da exposição e foi incrível poder ver tantas cabeças pensando e repensando minha história (Igor de Araújo, Fátima Farias, Nilton Resende, Schutze Jorge, Ane Oliva, Marcelo Marques, Magnun Angelo), história que diga-se de passagem começou a ser contada na Ilha do Ferro.

Ontem fui arrebatado por EmCiscos. Senti, ao ver os atores dando forma às personagens que eu recriei, o mesmo arrebatamento que senti em ver as corcundas do Mestre Aberaldo. Senti também que minha história conseguiu continuar sua narrativa, desdobrando-se. As pessoas que saíram de suas casas nas tardes de ontem e anteontem para ir ver EmCiscos na praça Sinimbu também têm suas histórias para contar, e aí minha alegria aumenta porque os desdobramentos só têm a continuar.

Queria poder ouvir todas as versões.

O que vê quem vê o seu tempo, o sorriso demente do seu
século? (...) contemporâneo é aquele que mantém fixo o
olhar no seu tempo, para nele perceber não as luzes, mas o
escuro. Todos os tempos são, para quem deles experimenta
contemporaneidade, obscuros. Contemporâneo é,
justamente, aquele que sabe ver essa obscuridade, que é
capaz de escrever mergulhando a pena nas trevas do presente.
Do ensaio "O que é o contemporâneo" de Giorgio Agambe
n


Além da sensibilidade da obra CISCOS, o que nos inspirou foi o fluxo do processo criativo onde Pedro (o Lucena) se inseriu para criá-las. O ‘circuito criativo’ se inicia na própria natureza, na diversidade da Ilha do Ferro, no sertão Alagoano. Elementos esquecidos desta natureza se redimensionam pelo olhar e ação precisa dos artistas locais, que com poucas intervenções criam seres intensamente expressivos com o que eram restos. O que vimos foi Pedro dar continuidade a essa expressão e, ao olhar às figuras, foi como se ao pé do nosso ouvido elas perguntassem: Quem somos? O que estamos fazendo aqui? O desafio de criar possíveis respostas para elas capturou nosso desejo criativo e tudo que fizemos desde então foi desistir de resistir a ele. Foi preciso mergulhar nas trevas do presente, deslizando o olhar pela possibilidade de encontrar o obscuro do não dito; do que apenas se insinua sem contornos tão claros. Procurar cavar neste
obscuro o material de nossa recriação constante, agindo entre ele; para, assim, deslocar pequenas dimensões dessa massa informe através da luz direcionada pela criação. Como nos rituais de passagem, onde o desenho das ações e a intensidade na forma de realizá-las estabelece uma trilha por onde seres se transformam. Será carnaval?

Flávio Rabelo e Eris Maximiano


Sobre Flávio Rabelo
Doutorando no Instituto de Artes da Unicamp com o projeto: Cartografia do Invisível: paradoxos da expressão do corpoemarte; com orientação de Renato Ferracini. A sua pesquisa integra o projeto Temático Memória(s) e Pequenas Percepções, desenvolvido pelo LUME teatro, com coordenação de Renato Ferracini e Suzi Frankl Sperber. Possui graduação em Licenciatura em Artes Cênicas – Teatro, pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL 2006) e mestrado em Artes pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP 2009). Há vinte anos atua nas artes cênicas, tendo começado sua trajetória em MaceióAl, onde trabalhou como diretor de teatro e arte educador em escolas de segundo grau e na Universidade Federal (UFAL); além de ter desenvolvido projetos de oficinas livres de teatro e projetos especiais para não atores em ONGS ligadas a comunidades carentes e Instituições em Alagoas. Entre 2007 e 2012 participou do projeto internacional Hotel Medea [2009 – Temporada no Arcola Theatre/Londres; 2010 Festival Tempo, temporada Oi Futuro/Rio de Janeiro e LIFT Festival/Londres; 2011 Edinburgh Fringe Festival/Edimburgo (Projeto vencedor do “The Herald Angel Award Winner” como melhor espetáculo, e indicado ao prêmio da revista inglesa TOTAL Theatre Magazine na categoria inovação na Artes Cênicas); 2012 – Temporada na Hayward
Gallery/South Bank/Festival of the World, Londres]. Atualmente integra o Cambar Coletivo (cambarcoletivo.com), onde pesquisa cartografias, derivas e jogos como procedimentos para criação de um campo coletivo de criação. Trabalha como performer, ator, dramaturgo e encenador. Tem experiência nas áreas das Artes Cênicas e Visuais, com ênfase em Teatro e Performance, atuando principalmente em: arte educação, encenação, atuação, treinamento, pesquisa e produção cultural.

Sobre Eris Maximiano
Produtor cultural, iluminador e designer com foco na área de cenografia, direção de arte e iluminação desenvolve projetos na área de espetáculos cênicos desde 1995. Em seu currículo, os espetáculos de dança “Descarga”(2000); “Quase tudo sobre quase nada”(2001) e “Ouro azul”(2002), sob direção de René Guerra e “Nigrum”(2002), da Companhia Maria Emília Clark, e a performance “Chão de Graça”(2003), dirigida por Flávio Rabelo. No teatro assina a direção de arte de “Versos de um Lambe Sola”(2007), da Associação Teatral Joana Gajuru e “O Breu da Caçupemba”(2012) da Cia.Fulanos Ih! Sicranos. É responsável pela direção de arte para o show de lançamento do CD “Verbo Livre”, de Fernanda Guimarães, Sala de Som Records/RJ; gerência de produção do espetáculo "Devassas O que as mulheres gostariam que fizessem com elas na cama"; coordenação de produção do espetáculo anglobrasileiro “Hotel Medea”, da Zecora Ura Theatre Network, que se apresentou no OI Futuro Flamengo, em 2010, no Rio de Janeiro, no Festival de
Edimburgo na Escócia em 2011, tendo participado como performer do Festival of the World, no SouthBank Centre, em Londres/Reino Unido, em 2012. Como trabalhos mais recentes estão o Desenho de Iluminação para o show musical “Mémória da Flor”, do alagoano Junior Almeida, e a Direção de Arte dos espetáculos “Baião de Dois”, do Coretfal e “Tchuplin – O mistério para salvar o Ponto Azul” da Associação Teatral Nega Fulô.

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Curiosidade

Treze vezes vencedor do prêmio Notáveis da Cultura Alagoana - Prêmio ESPIA.

"Uma cidade que não tem memória é uma cidade sem alma. E a alma das cidades é sua própria razão de ser. É sua poesia, é seu encanto, é seu acervo. Quem nasce, quem mora, quem adota uma cidade para viver, precisa de história, das referências, dos recantos da cidade, para manter sua própria identidade, para afirmar sua individualidade, para fixar sua municipalidade." Extraído do livro Maceió 180 anos de história 5 de dezembro de 1995.

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