Dizem que quem vê cara não vê coração. Essa assertiva popular não pode ser contextualizada ao álbum Grande Angular, lançado recentemente pela jovem e talentosa cantora-compositora Elisa Lemos. Não pode, porque o belíssimo projeto gráfico reflete o conteúdo musical da obra como um todo. Talvez, minuciosamente falando, a capa do CD contenha um leve excesso: o detalhe do rosto da artista ao centro de uma pupila (que suponho ser a dela), um preciosismo desnecessário ao mistério instigante pelo não totalmente revelado. Sobretudo, porque todo o projeto está repleto de fotos maravilhosas da Elisa, captadas magistralmente por Woulthamberg Rodrigues.
Para os que ainda entendem que um álbum é também um amálgama de diversas expressões artísticas, que podem ir da arte gráfica e seus detalhes, passando pela fotografia, até chegar ao cerne da questão: música pra valer, o primeiro disco de Elisa Lemos, sem dúvida, atende plenamente a tais requisitos. Portanto, a fruição deste álbum, do ponto de vista artístico, possui todos os atributos para ser completa, pois contempla a harmonia e unidade em todos os parâmetros que compõem uma proposta que vai muito além de um mero objeto para entretenimento.
A opção dos produtores musicais, Toni Augusto e Fernando Nunes, pela sonoridade e arranjos concisos e eficientes, sem penduricalhos sonoros, confere a esse trabalho um clima de amadurecimento que, por óbvio cronológico, Elisa Lemos ainda não tem. No entanto, esse acerto na dosagem do disco, que se revela a partir da coerência do repertório, entrega ao público um produto de clareza solar, muito bem-acabado, e faz um contraponto perfeito ao desabrochar de uma artista em seus primeiros passos. É um disco que não comete o erro comum aos principiantes: descarregar toda artilharia na primeira batalha, atirando para todos os lados, como se não houvesse amanhã.
Seja como intérprete de outros autores ou como compositora, Elisa traz um frescor singular e apresenta uma realidade bem particular nessa estreia. Algo como o DNA de “ancestrais contemporâneos”, impresso em seu canto e forma de compor mixolídica e diatonicamente amourada. Grande Angular tem um tanto de Gauguin, pela simplicidade do impulso das formas, e outro tanto de Van Gogh, na representatividade dos sentimentos pelas cores e luminosidade musicais. Trata-se de um disco na contramão da mediocridade.
Credito: Gazeta de Alagoas - Por: Mácleim
"Uma cidade que não tem memória é uma cidade sem alma. E a alma das cidades é sua própria razão de ser. É sua poesia, é seu encanto, é seu acervo. Quem nasce, quem mora, quem adota uma cidade para viver, precisa de história, das referências, dos recantos da cidade, para manter sua própria identidade, para afirmar sua individualidade, para fixar sua municipalidade." Extraído do livro Maceió 180 anos de história 5 de dezembro de 1995.