ROTEIRIZADO, DIRIGIDO E PROTAGONIZADO POR CRIS BRAUN E DINHO ZAMPIER, DISCO PROMETE BOAS CENAS AUDITIVAS, ALGUMAS SURPRESAS E EMOÇÕES SENSORIAIS
Por: Mácleim * - Gazeta de Alagoas Fotos: Fernando Rizzotto / Henrique Oliveira
A audição de Filme começa em um tema instrumental, Dona Rita de Quevedo, com um quê Chapliniano. Quando o tema abre para um B melodioso, tira uma onda e para abruptamente. Daí, volta à primeira célula rítmica e melódica, deixando o ouvinte de calças nas mãos, a se perguntar: por que fizeram isso comigo? O tema se repete com letra, na faixa seis, porém sem o mesmo efeito cinematográfico da abertura. Contudo, a abertura é o prenúncio de que este Filme – roteirizado, dirigido e protagonizado por Cris Braun e Dinho Zampier – promete boas cenas auditivas, algumas surpresas e emoções sensoriais.
E não tarda para que o inusitado, mas não inesperado, aconteça logo na segunda faixa, Escorpiões, de atmosfera suspense, onde Hitchcock poderia tranquilamente fazer uma daquelas suas aparições icônicas, enquanto Cris Braun canta que são dela os escorpiões de estimação.
Tudo sublinhado por um violino soturno, complementando a viagem sinestésica que qualquer fruidor poderá fazer. Não me parece ter sido à toa, nem meramente ocasional, o título escolhido para este álbum.
Na sequência, uma profusão de substantivos é derramada narrativamente, em ondas que desaparecem em fade out e dão lugar à guitarra e violão de Billy Brandão, como trilha para uma cena sonora que nos remete facilmente aos filmes italianos de Western, com Giuliano Gemma e Franco Nero protagonizando o duelo fatal, com um ápice de tensão e depois melancolia.
O ambiente segue introspectivo em Harpia um voo sonoro, de altura indescritível, tão pesado e ao mesmo tempo leve, como a ave de rapina que dá nome à canção. E o Filme segue fiel ao seu roteiro por caminhos indefinidos entre leveza e tono, mas sem carecer, por exemplo, do exagero idiota dos blockbusters Hollywoodianos, ou dos extras sonoros inconsequentes, que lhe datem uma época indesejada. Ao chegarmos a faixa cinco, Filme, que dá nome ao disco, encontraremos pouco mais de um minuto de exercícios melódicos do Dinho Zampier e livres vocalizes da Cris Braun. Daí pra frente, Filme, que teria a classificação de um curta (apenas 20 minutos de música), toma outro rumo, mais dançante, menos introspectivo, com letras instigantes pela plasticidade quase cômica, como em A louca chama, e o bebop jazzístico, em Tieteberga Sento In Seno, até chegar faixa, Prantinho, que se despede com uma atmosfera intermediaria a tudo que já foi ouvido, imaginado e degustado por diegese. Um Filme se estrutura na sequência de imagens que são postas e projetadas de maneira continua, simulando movimento. Um disco, também pode seguir esse padrão, simulando emoções. Filme, de Cris Braun e Dinho Zampier, é um disco que flerta com o conceito do crítico de cinema italiano Ricciotto Canudo, que cunhou para a invenção dos irmãos Lumière o epíteto de sétima arte. Em seu minimalismo e síntese, Filme concilia a possibilidade implícita ás Belas Artes. Pois que esteja sempre em cartaz .
* É jornalista e músico.
SERVIÇO
FILME, CRIS BRAUN & DINHO ZAMPIER
Disco físico: à venda em www.crisbraun.com.br
Plataformas digitais: Spotify, Itunes, Deezer, Google Play
Ouça o CD completo AQUI
"Uma cidade que não tem memória é uma cidade sem alma. E a alma das cidades é sua própria razão de ser. É sua poesia, é seu encanto, é seu acervo. Quem nasce, quem mora, quem adota uma cidade para viver, precisa de história, das referências, dos recantos da cidade, para manter sua própria identidade, para afirmar sua individualidade, para fixar sua municipalidade." Extraído do livro Maceió 180 anos de história 5 de dezembro de 1995.