O mercado fonográfico ainda é árduo para os músicos alagoanos. Quando eles conseguem lançar seus CD’s, são com produções independentes. São poucos os que se arriscam, pois o custo de produção de um disco é alto. “Estou no mercado há 12 anos e só agora lancei meu primeiro CD ‘original’, porque tive coragem de meter a cara e pedir ajuda a meus amigos e alguns empresários”, conta a cantora alagoana Maria de Jesus, que reclama da falta de apoio para divulgar as produções.
Mas, além das dificuldades para produzir um CD, os artistas caetés também enfrentam outro obstáculo na hora de mostrar seu talento: a falta de apoio dos próprios conterrâneos. “Quando vem algum artista de fora se apresentar aqui em Maceió, quem faz os shows de abertura são aqueles cantores que já fazem parte de uma ‘panelinha’, sem dar espaço para que novos talentos possam aparecer”, lamenta Maria. “Nós fomos educados de uma forma em que acreditamos que o que é bom vem de fora”, complementa o proprietário da Banca Zumbi e incentivador de produções locais, Aldo Gomes. Ele acredita que os alagoanos estão perdendo sua identidade cultural.
Espaço alternativo
Em meio a revistas e jornais, Aldo possui uma sessão exclusivamente destinada à venda de CD’s de cantores e compositores alagoanos. “Esta sessão é uma forma das pessoas saberem que em Alagoas nós possuímos uma arte viva e que isto deve ser valorizado”, afirma.
Ele – que já trabalhou no meio artístico como iluminador e sonoplasta – conhece a dificuldade sentida por artistas que querem divulgar seu trabalho e não encontram meios acessíveis. “Observo que em outros Estados, como Pernambuco e Salvador, existe um certo bairrismo, onde as pessoas valorizam os artistas da terra. Deveríamos copiar isso deles e enaltecer o nome de nosso Estado”, completa.
O vendedor afirma que a procura pelos CD’s é consideravelmente boa. Dentre os mais vendidos estão os discos da banda Sonic. Jr.; Wado, Leureny e outros. O público que compra os discos é variado. “Recebo aqui o colecionador, que geralmente é um pouco mais velho e procura raridades. Mas os jovens também aparecem e se tornam fiéis de nossos artistas”, disse. O preço também é outro fator que ajuda na hora das vendas: os discos custam entre R$ 10 e R$ 25. “Como meu contato é direto com os músicos e cantores, fica mais fácil estabelecer um preço convidativo”, afirmou, numa crítica às grandes lojas de departamento que não possuem espaços destinados à cultura local. “Nossos artistas não têm casa”, disse.
Além dos CD’s, Aldo também mantém uma prateleira com livros de autores alagoanos, numa forma de incentivar a população a conhecer e valorizar a arte produzida no Estado. “Estamos lutando contra a maré, mas acredito que isso ainda será contornado”, entusiasma-se.
Nas ondas da internet
E, com o mesmo intuito de divulgar e valorizar a cultura alagoana, José Ademir dos Anjos, junto com seu filho, Gustavo Lins, criaram um site (www.bairrosdemaceio.net) onde existe uma web rádio que só toca músicas de artistas locais, ou de compositores nacionais que tenham algum trabalho que fale em Maceió.
José Ademir possui um programa (Cidade Sorriso) em uma rádio comunitária – a Bela Vista FM (89,7). No programa, é contada a história de bairros e ruas da capital alagoana, além de tocar músicas da terra. Ao longo de três anos de programa, Ademir conseguiu um bom acervo com trabalhos locais, muitos deles em versão demo, que também são executados durante a programação.
Segundo José Ademir, veio a necessidade de ultrapassar as barreiras da FM e transmitir a cultura alagoana para o mundo. “Foi com isso que criei a Web Rádio Maceió, através do meu site, o www.bairrosdemaceio.net”, disse.
Ademir avalia que o artista alagoano não tem muito espaço no cenário nacional, e que isso é prejudicial ao surgimento de outros talentos. “Falta apoio, principalmente da mídia local. As emissoras de rádio poderiam fazer a diferença nessas horas. Até porque, talentos, temos e muito”, afirma.
por Charlene Araújo - Jornal Primeira Edição
"Uma cidade que não tem memória é uma cidade sem alma. E a alma das cidades é sua própria razão de ser. É sua poesia, é seu encanto, é seu acervo. Quem nasce, quem mora, quem adota uma cidade para viver, precisa de história, das referências, dos recantos da cidade, para manter sua própria identidade, para afirmar sua individualidade, para fixar sua municipalidade." Extraído do livro Maceió 180 anos de história 5 de dezembro de 1995.