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Por, Bairros de Maceió - 01/09/2013

JARAGUÁ - Abandonado, bairro pode ser novamente revitalizado

As ruas de paralelepípedo que contam um pouco da história da formação de Maceió nem de longe lembram o movimento de décadas atrás. Andar pelo bairro de Jaraguá é um desafio em algumas horas do dia.

Os casarões abandonados e as praças mal iluminadas viraram ponto de assaltos. Bares e boates fecharam suas portas e os poucos comerciantes que ainda continuam no local não contam com estrutura adequada.

A câmara de vereadores começou a discutir na última semana propostas de requalificação do Jaraguá. Encabeçadas pelo vereador Silvânio Barbosa, a Casa Mário Guimarães quer apresentar à prefeitura alternativas para tornar a região um centro cultural.

Do outro lado, a prefeitura diz que só poderá fazer uma mudança no bairro através de parceria. A última intervenção do executivo municipal no Bairro de Jaraguá aconteceu na gestão da ex-prefeita Kátia Born, há mais de dez anos.

Silvânio Barbosa disse ao TNH1 que quer levar à prefeitura propostas para que museus sejam abertos e que haja incentivo aos comerciantes, artistas e artesãos para desenvolver atividades culturais no bairro.

“Há um projeto semelhante em Fortaleza e quero propor para Maceió algumas coisas que foram implantadas lá. Se você olhar, a população da capital e os turistas possuem pouquíssimas opções de lazer. O Jaraguá é um bairro histórico e está abandonado. Queremos que a prefeitura desenvolva projetos para revitaliza-lo”, explicou.

Na audiência, que contou com a presença de representantes da Polícia Militar, Associação Comercial, moradores e associações dos pescadores, foi formada uma comissão composta de cinco pessoas, que vai se reunir mensalmente para discutir o que está sendo realizado no bairro.

A cada encontro um representante da prefeitura será convidado para debater as demandas. Na ocasião, o coronel Neuton Bóia, comandante do Policiamento da Capital (CPC), assumiu o compromisso de reforçar o policiamento na região.

“Desde que aconteceu a revitalização na gestão Kátia Born, nada mais foi feito. Já enviei ofício para as secretarias de Iluminação e de Limpeza Urbana para melhorar a iluminação no bairro, que é a causa de muitos assaltos, além da retirada do lixo que se acumula em prédios abandonados e pelas praças. Espero poder contar com a equipe do prefeito Rui Palmeira para dar nova vida àquele lugar”, afirmou o vereador.

Prefeitura diz que revitalização só é possível com parceria

Durante a visita às obras da avenida Josefa de Mello na última segunda (26), o prefeito Rui Palmeira comentou sobre o projeto da câmara e concordou que o bairro está abandonado. Mas disse que a prefeitura não possui verba para realizar obras de melhoria no local.

A única saída, segundo Palmeira, é apostar em Parceria Público-Privada (PPP) para reverter a situação. Ele ainda disse que a Secretaria Municipal de Planejamento (Sepla) estuda um projeto para o Jaraguá, mas ainda está em construção e sem data para entrar em execução.

“Estive no Rio de Janeiro e vi o projeto de revitalização da região portuária da cidade, o Porto Maravilha. A experiência do Rio vai servir como base para um projeto futuro para o Jaraguá. Porém, obras desse porte hoje só serão possíveis com empresas parceiras, a exemplo do que aconteceu com a avenida Josefa de Mello”, afirmou.

O Jaraguá que ficou na memória

Situado em uma região estratégica da cidade, o bairro de Jaraguá foi o marco zero da formação de Maceió. Com quase dois séculos de história, não é a primeira vez que se fala em revitalizar o espaço. No final da década de 90, a notícia de resgatar a cultura e potencializar suas características animava quem queria fugir da badalação dos bairros da orla e dos shoppings.

Quem era jovem nessa época guarda as histórias de algum momento que viveu ali. O “boom” do bairro trouxe novas opções de bares, restaurantes, boates, espetáculos e fortaleceu a cena alternativa, revelando várias bandas que buscavam espaço na mídia para mostrar seu trabalho.

Foi nesse clima que o músico Allan Nogueira criou com amigos a banda Abismo em 1999. “Foi bem animador quando anunciaram que o Jaraguá passaria por uma revitalização e se tornaria o polo cultural de Maceió.

Para mim, que estava no auge da adolescência e começando a ter certa autonomia pessoal, foi interessante vivenciar o que este bairro passou a oferecer em seu momento mais movimentado”, contou.

O período também foi favorável para produtores culturais e comerciantes, que enxergaram ali a oportunidade para divulgar seu trabalho. Logo que o projeto foi iniciado, por volta do começo década de 90, as casas de shows, bares e restaurantes se instalaram no bairro.

A Rua Sá e Albuquerque ficou marcada por abrigar ali as boates Aeroporco, Tamanduá Pub, Dom José (atual Armazém Usina), Arena e Marquês D’latravéia.

Outros nomes também ficaram marcados, como o Jaraguá Art Studio, Fábrica 86, Orákulo, Sururu de Capote, Virgulino e mais recentemente o Banga Bar.

Apresentações artíticas por vários pontos de Jaraguá

Adriano Arantos, produtor cultural e vocalista da banda Sinsinhor, conta que a receptividade do público era boa e que as apresentações de bandas e grupos artísticos aconteciam por vários pontos do bairro.

“Lembro que mesmo sendo uma banda que tinha em sua base o Punk e o Hardcore, nessa mesma época a Sinsinhor fazia algumas apresentações em palcos abertos pelo Jaraguá, como no projeto “Reviva Jaraguá”, que acontecia na Praça 18 do Forte, além de outros projetos da prefeitura que fundiam música contemporânea com mestres de cultura. Tocamos também em muitas casas de show. Era muito bom”, contou.

Apesar da preocupação da câmara de vereadores e da prefeitura em melhorar a estrutura, ambos afirmam que não acreditam na eficiência das ações. “Com base no que já vi antes, se o projeto não tiver boas raízes e não for um trabalho que tenha uma continuidade, não fará muita diferença, pois estará fadado ao fracasso como já aconteceu anteriormente”, avalia Adriano.

Allan lembra que a violência contribuiu para a decadência do bairro e, pela experiência vivida, não acredita que o novo projeto vá realizar grandes mudanças. “Um amigo meu foi assassinado na porta de uma casa de show, com disparos realizados a esmo por uma pessoa de classe média, e isso, em minha opinião, diz muito mais. Não sei até que ponto os vereadores ou o executivo municipal estão preocupados com estas questões e comprometidos em resolvê-las.”, comentou.

conteudo: Vanessa Siqueira - TNH1 / Foto: bairrosdemaceio.net 

 

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Treze vezes vencedor do prêmio Notáveis da Cultura Alagoana - Prêmio ESPIA.

"Uma cidade que não tem memória é uma cidade sem alma. E a alma das cidades é sua própria razão de ser. É sua poesia, é seu encanto, é seu acervo. Quem nasce, quem mora, quem adota uma cidade para viver, precisa de história, das referências, dos recantos da cidade, para manter sua própria identidade, para afirmar sua individualidade, para fixar sua municipalidade." Extraído do livro Maceió 180 anos de história 5 de dezembro de 1995.

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