Maceió em Verso & Prosa

Planta de Maceió

O vento do mar rói as casas e os homens.
Do nascimento à morte, os que moram aqui andam sempre cobertos por leve mortalha de mormaço e salsugem. Os dentes do mar mordem, dia e noite, os que não procuram esconder-se no ventre dos navios e se deixam sugar por um sol de areia.
Penetrada nas pedras, a maresia cresta o pêlo dos ratos perdulários que, nos esgotos, ouvem o vômito escuro do oceano esvaído em bolsões de mangue e sonham os celeiros dos porões dos cargueiros.
Foi aqui que nasci, onde a luz do farol cega a noite dos homens e desbota as corujas.
A ventania lambe as dragas podres, entra pelas persianas das casas sufocadas e escalavra as dunas mortuárias onde os beiços dos mortos bebem o mar.
Mesmo os que se amam nesta terra de ódios são sempre separados pela brisa que semeia a insônia nas lacraias e adultera a fretagem dos navios.
Este é o meu lugar, entranhado em meu sangue como a lama no fundo da noite lacustre.
E por mais que me afaste, estarei sempre aqui e serei este vento e a luz do farol, e minha morte vive na cioba encurralada.

Bairros de Maceíó © 2002-2020

Curiosidade

Treze vezes vencedor do prêmio Notáveis da Cultura Alagoana - Prêmio ESPIA.

"Uma cidade que não tem memória é uma cidade sem alma. E a alma das cidades é sua própria razão de ser. É sua poesia, é seu encanto, é seu acervo. Quem nasce, quem mora, quem adota uma cidade para viver, precisa de história, das referências, dos recantos da cidade, para manter sua própria identidade, para afirmar sua individualidade, para fixar sua municipalidade." Extraído do livro Maceió 180 anos de história 5 de dezembro de 1995.

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