Notícia

Por, Bairros de Maceió - 09/12/2006

O Guerreiro Alagoano

Por: Marcelo Cabral

O Guerreiro é um auto natalino genuinamente alagoano, de caráter dramático, profano e religioso. É uma junção de elementos dos pastoris, cheganças, quilombos, caboclinhos, e na opinião dos estudiosos do folclore se trata de um reisado moderno.

Surgiu em Alagoas na década de 20 do século XX, o folguedo apresenta um grupo de cantores e dançadores acompanhados de uma sanfona, tambor e pandeiros, que conta e canta através do sincretismo religioso a chegada do messias e a homenagem dos três reis magos, entre os dias 24 de dezembro até o Dia de Reis, em 6 de janeiro. O Índio Peri, a Lira, o Papa-figo, a Alma, o Zabelê, o Sapo, o Mateu, o Doido, o Mata-mosquito, a Sereia, a Estrela Dalva, os Reis e Rainhas. Estes são alguns dos inumeráveis personagens que podem compor um auto de Guerreiro, sobre o comando do Mestre e sua espada, com seu incrível chapéu em formato de igreja de onde caem fitas de cetim multicoloridas.

A indumentária é carregada de espelhos, miçangas, brilho, lantejoulas e cores, muitas cores, todas elas. Os homens usam calções e meias brancas bem longas, imitando as roupas dos nobres e reis da corte, as mulheres usam vestidos com acessórios referentes a seus personagens, tudo isso compõe o visual das apresentações deste folguedo popular alagoano.

A parte musical, segundo o músico e pesquisador do guerreiro Tido Moraes, é um auto todo cantado, intercalando intervenções instrumentais, como vinhetas de passagem entre um episódio e o próximo. Acontecem pausas chamadas de embaixadas, nas quais o mestre e as outras figuras do guerreiro representam seus personagens em versos falados.

Música, dança, poesia, e teatro, tudo junto!

Tido completa. “O auto é uma seqüência de músicas poli-rítmicas, em formas binárias, ternárias, e quaternárias, esse é o tempo do andamento, ou seja, representam marchas e valsas. A harmonia funcional é bem simples e se dá através da sanfona. O mestre entoa a melodia e as figuras respondem em coro”.

Quem já assistiu a uma apresentação de Guerreiro sabe que a música tem um ritmo frenético e forte, a coisa toda é bem quente, pega fogo no salão mesmo, como se diz.

Mestre Benon, do Guerreiro Treme Terra de Alagoas, um dos grupos mais respeitados do gênero, conta no vídeo “Mestre Benon, o Treme Terra”, de Nicolle Freire e Celso Brandão: “Nós já quebramos muito palanque por aí se apresentando com o Guerreiro, uma vez na universidade (Ufal) estavam com as câmeras da TV filmando e quebrou tudo, caiu todo mundo”.

Isso pode acontecer no momento chamado de trupé, em que os dançadores batem o pé com força no chão, acompanhando o aumento da velocidade da música. Quebra mesmo.

Logo depois da reza do divino, no meio do espetáculo, acontece a luta de espadas entre os guerreiros. Este embate envolve sempre mestre e os embaixadores contra outros personagens como o Índio Peri. Tem pirueta, cambalhota e toda ação de uma boa luta de espadas. Errol Flynn das Alagoas!

Mestre Benon, o Treme Terra

“O Guerreiro é irmão do Reisado, primo do xangô, dos índios da montanha, das Baianas, da Taieira, do Toré de índio, do Caboclinho, do Bumba-meu-boi e do Quilombo do Pastoril". (extraído do site do projeto Guerreiro por Natureza, Universidade Federal de Alagoas - Ufal). Modéstia não é seu forte. Há mais de 50 anos atuando no folclore alagoano, Benon é um exemplo de gente do povo orgulhoso de si mesmo e de suas realizações, de sua arte, do seu Guerreiro Treme Terra de Alagoas, ele bate no peito e diz “Mestre Benon, o rei do folclore”, e é mesmo. Segundo ele, é instruído em 29 profissões, e que não tem preguiça de trabalhar, dá valor a Alagoas porque “aqui só morre de fome se for preguiçoso, tem peixe, sururu, siri, caranguejo, tudo”.

No Centro Comunitário Hélio Porto Lages, bairro da Chã do Bebedouro, onde se tem uma bela vista de Maceió e da Lagoa Mundaú, vive Mestre Benon e a maioria do seu grupo de Guerreiro, por volta de 35 pessoas que o tratam com grande respeito.

Benon comanda também um trio de forró, tocando sanfona, e que tem o ótimo nome de Trio Mordido do Poico. Como complemento de renda, ele vende, ou melhor, exporta pequenos chapéus de Guerreiro, enfeites que rodam o mundo, “Estados Unidos, Japão, Europa, vendo pra todo lugar”, diz o Mestre do folclore alagoano.

Fonte: http://www.overmundo.com.br
Crédito das Fotos: Marcelo Cabral

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Curiosidade

Treze vezes vencedor do prêmio Notáveis da Cultura Alagoana - Prêmio ESPIA.

"Uma cidade que não tem memória é uma cidade sem alma. E a alma das cidades é sua própria razão de ser. É sua poesia, é seu encanto, é seu acervo. Quem nasce, quem mora, quem adota uma cidade para viver, precisa de história, das referências, dos recantos da cidade, para manter sua própria identidade, para afirmar sua individualidade, para fixar sua municipalidade." Extraído do livro Maceió 180 anos de história 5 de dezembro de 1995.

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